Quando Yukio Mishima suicidou-se, em novembro de 1970, seu nome era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura. Louvações à parte, era, indiscutivelmente, um dos maiores escritores de todos os tempos do Japão. Escolheu o seppuku, o suicídio ritual dos samurais, abrindo a barriga antes de ser decapitado por um dos homens de sua guarda. No filme O SOL, de Aleksander Sokurov, há uma cena antológica: o Imperador Hirohito, acomodado no banco traseiro de um automóvel, observa os destroços da cidade, enquanto se dirige ao palácio presidencial para assinar a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. O gesto representa, no entanto, uma muito mais. A assinatura será o rompimento de uma tradição milenar: o Imperador, tido até então como Deus, torna-se agora um homem comum, vencido, vendo-se obrigado a aceitar uma série de restrições impostas pela vitória dos Aliados. Ao longo do pós-guerra o país irá se transformar profundamente e irá se ocidentalizar a olhos vistos. Por outro lado, o chamado perigo vermelho, reforçado por sua vizinhança com a China e a URSS, também o ronda e grupos comunistas não serão raros, sobretudo entre a população jovem. Protestos contra a guerra do Vietnã e a ocupação da ilha de Okinawa tornam-se frequentes no final dos anos sessenta, bem como intervenções radicais, como o sequestro de um voo da JAL. É nesse contexto que Yukio Mishima elabora sua obra, especialmente o romance HERÓIS MORTOS. O escritor afirma que o então Imperador do Japão não é mais o Imperador ideal, é apenas um símbolo idealizado do Imperador. Deseja então que o Imperador reassuma a sua entidade divina, tal como a encarnara milenar história do país. Seus romances são concebidos como a desconstrução das convenções de uma sociedade, a seu ver, desorientada. As forças de Autodefesa, denuncia, foram substituídas por uma poderosa burocracia. O escritor torna pública sua reivindicação por uma emenda na Constituição para dar autoridade divina ao Imperador. O desejo é radicalizado quando Mishima toma como refém o comandante do quartel-general. Diante dos soldados reunidos no pátio do quartel, profere um inflamado discurso, questionando, entre outras coisas: o que é ser japonês? O que a espada significa? Vocês são homens? Vocês são samurais? Quem irá lutar do meu lado? E conclui: “Vida longa ao Imperador”. Ridicularizado pelos soldados, retorna ao gabinete do comandante e pratica o suicídio ritual.
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